No dia seguinte ao derradeiro debate entre os dois principais adversários, o que é que se falava nos cafés… Por acaso, habito em terras de cariz comunista prolongado e, de facto, ainda não tenho uma lista muito completa de queixas e críticas efectivas que poderia fazer à autarquia. Devo acrescentar que a maior parte da população residente em Almada é composta por reformados de idade considerável e, assim sendo, poucas pessoas se vêem sem trabalhar que sejam da minha faixa etária. Convencida de que ouviria burburinhos e conversas acerca do debate do dia anterior, lá estive um pouco mais atenta ao que me rodeava e parei a música que estava a ouvir. Ora, para meu grande espanto, mais valia ter continuado a ouvir a minha música, tirava para pedir o pão e voltava a ouvir! Pois a maior preocupação era que o Benfica iria jogar naquele dia e depois da goleada que o Porto tinha dado ao Leixões, tinham que fazer o mesmo e continuar a pressionar o primeiro lugar… Perdoem-me o que vou dizer! Apesar de não ser benfiquista e não ter a oportunidade de ter noção que a 2ª Feira parece bem melhor à maior parte da nação quando o Benfica ganha, eu estou-me nas tintas para isso depois de um debate importante entre duas pessoas que querem governar esta mesma nação. Não, o mais importante é que o Benfica vença! Por amor de Deus, eu sou do FCP, estive a ver o jogo e só me perguntava quando é que isto acaba para eu poder ver o que vem a seguir, um debate mais importante que o jogo de futebol! Era pelo debate que eu estava ansiosa! E acreditem que sou bem doente pelo FCP…
É isto que eu não consigo compreender… Contaram-me, estudei e falam-me da revolução sem armas que fizemos, do que os portugueses temiam na altura do regime mas será que o português não é inerte por natureza? Será que se não fossem os militares (sim, porque estávamos numa Guerra Colonial!), teria havido revolução? Será que alguma vez a própria população ter-se-ia organizado em massa de forma a combater e findar o regime? Atenção que não retiro qualquer mérito às pessoas militares e civis foram presas, exiladas, torturadas ou mortas durante o regime e que tentaram fazer-lhe frente! Nada disso! Mas será que o povo português é assim, sempre foi o tal povo de brandos costumes, o povo que aceita tudo o que lhe é imposto? Porque tem que ser assim e não vale a pena questionar? Ou tornou-se assim desde o 25 de Abril?
Sim, quase toda a classe política é assim, não podemos confiar neles! Mas é engraçado que durante estes 4 anos e meio, (em surdina ou não, dependendo se a pessoa tinha coragem para falar em público sem medo de retaliações) só ouvi queixas, críticas ao governo, as pessoas a serem lesadas em todos os sentidos, todos diziam que nunca mais votariam no Sócrates… e agora é “mal por mal, voto nele outra vez”?!!!! Então afinal gostaram de ser tratados assim! E gostam e querem continuar a ser tratados assim! Isso é ser-se masoquista, pessimista, agir em bando ou carneirada, não ter coragem nem convicção, é não ter aquilo que o Sócrates tanto apregoa! Aqui vai uma lição de psicologia grátis: mais vale votar nele porque dele já sabemos com o que podemos contar! Isto é dos livros! É não se ser corajoso e optimista o suficiente para se pensar que talvez nem todos sejam iguais e talvez hajam alternativas, talvez valha o risco, talvez tenhamos outras pessoas que não nos vão enganar arrogantemente como o fomos durante este último mandato… E então questiono essas pessoas: então o que de tão bom fez o Sócrates? E respondem-me a frase que o Sócrates mais disse naquele debate, tipo “água mole em pedra dura tanto bate até que fura”: pôs as contas públicas em ordem. E pergunto que mais… Engraçado, quase ninguém me conseguiu responder que mais coisas boas o nosso PM fez em 4 anos e meio…
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